Á deriva de Henrique Dacosta





Ainda tendo marchado de Ferrol, há agora mais de vinte anos, gosto de voltar a visitar, entre outras coisas, a costa de Trasancos. Acho que a cidade da minha infância e adolescência estará sempre comigo. Desde que estou fora, não consegui que nenhuma das cidades das que fui hospede fica-se na minha memória com a intensidade daquela na que nasci.
É por todo isto, e por outras moitas coisas, que gostei muito de ler os textos que Henrique Dacosta apresenta no seu, até hoje, último livro de relatos, publicado por Belagua. Á deriva recolhe espaços que conheço bem, acontecimentos que vivi com expectação. Nesse livro experimentei um retorno a um Ferrol cheio de lembranças. Todo com uma língua especialmente cuidada.
Mas não é um livro pensado só para nostálgicos da cidade, como posso ser eu, é um livro para quem queira ter outra visão diferente da que já tem, ou da que pôde ter-se formado ao achegar-se a preconceitos gestados desde há décadas. Ou mesmo é possível tratar a cidade como um espaço anônimo e imaginar que é qualquer outra urbe do país, ou mesmo de além das nossas fronteiras imaginárias. Porque nos relatos de Á deriva existem suficientes espaços em comum como para que qualquer pessoa possa sentir-se como nascida em Ferrol.     

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